Um espaço que favoreça a Infância

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Um espaço que favoreça a Infância

A importância de se pensar um espaço que favoreça a infância, quando se pensa um futuro melhor para a humanidade, é cada vez mais evidente nos dias de hoje. A visão de infância que veio se alicerçando no Brasil e no mundo, se por um lado foi favorecida por sua crescente distinção, por outro foi sendo cada vez mais afastada de sua essência que, outrora anônima, permanecia mais protegida, mas hoje se expõe como possível usuária de serviços e consumos.

Neste sentido, vemos espaços públicos ou privados sendo pensados por adultos e construídos para serem oferecidos à infância. A imersão no cientificismo e pragmatismo que predomina na atualidade, partindo de premissas objetivas e pré-estabelecidas, acabam criando espaços estanques, que raras vezes tocam nas necessidades mais profundas da infância.

Quando estes objetivos são de ordem educacional, as coisas se complicam um pouco mais, pois estes espaços se propõem a abarcar o ser e o vir a ser das crianças na tentativa de garantir o desenvolvimento da infância. Entretanto, os espaços educacionais se deixam ofuscar pela intenção de alcançar os objetivos já predeterminados, focando o olhar num padrão de abstração da infância, excluindo as crianças reais que ali irão conviver.

O que será realmente necessário oferecer à infância atual para que esta possa exercitar sua Humanidade? O que um adulto pode refletir a respeito de sua própria Humanidade a fim de que sua reflexão sirva para clarear este encontro que se estabelece no aqui e agora por onde a infância passa? Estas seriam, a nosso ver, perguntas fundamentais diante da necessidade premente de se repensar os espaços oferecidos à infância atualmente e, em nosso caso específico, para repensar os espaços dedicados à educação infantil.

Ao analisarmos a humanidade e seu desenvolvimento, muitas vezes nos detemos em sua história recente e acreditamos serem inócuas, porque já totalmente integradas como conquistas que caracterizam a espécie humana. Entretanto, ao deixarmos de olhar estes processos, perdemos de vista o percurso que a criança desenvolve na sua fase de crescimento durante a Infância. Um deles, para tornar bastante evidente como exemplo, é o caso da verticalização: uma das características que determina a espécie humana é a sua postura ereta, a possibilidade de utilização das mãos e sua mudança de ponto de vista e de uso dos sentidos que se afastaram do chão. No longo processo dinâmico destas demoradas mudanças que a espécie humana processou, as crianças em seus movimentos espontâneos vão refazendo este percurso enquanto brincam, ampliando sua capacidade cerebral e singularização da Inteligência.

A infância vem perdendo o seu espaço de exploração e experimentação das capacidades da espécie humana que nela se encontra em embrião. A redução do espaço de liberdade que respeite a intensa movimentação física e psíquica das crianças, conferindo a elas o direito de exercer naturalmente o seu processo de crescimento e consequente aquisição das qualidades humanas já adquiridas, tem sido fator determinante do longo espectro de distúrbios da infância e sua consequente via para medicalização.

O espaço de exercer seu fazer mais espontâneo, o brincar, que foi sendo associado à idéia de lazer, ócio e improdutividade, ainda são registros indeléveis que estão presentes nas reflexões da maioria das práticas educativas que se destinam à escolarizar a Infância sem se dar conta de seu ritmo e de suas noções de tempo e espaço tão distintas do mundo adulto. É preciso reverter este quadro para que a Infância se cumpra na criança através das infinitas brincadeiras que pontuam, justamente, a aquisição gradativa de um corpo que se sabe curioso, explorador, desafiador, sempre pronto a dar um passo adiante daquele que foi incorporado.

Olhar uma criança enquanto brinca é o único caminho de aprendizagem que o adulto tem diante de si para descobrir a riqueza de um corpo que se movimenta a procura de si mesmo. Cada gesto, cada expressão de sua linguagem ainda em formação, cada brincadeira, são os meios que contamos para fazer a leitura do acervo cultural da infância, acervo este que nos colocará em contato com a extrema diversidade através da qual a espécie humana evolui.

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