A casa, o corpo, o eu

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A casa, o corpo, o eu

“Me ajuda a fazer eu.” Essa foi a fala de uma criança, de aproximadamente três anos, diante de uma caixa de papelão, querendo entrar dentro e ali criar o seu lugar um espaço que a contivesse, a sua casa. Essa expressão nos conduziu a uma reflexão profunda sobre a relação estabelecida pela criança entre a construção desse lugar, nomeado por ela como “minha casa”, e a construção do seu “eu”. Dois aspectos aparentemente distintos ali se reuniam:

A casa e o eu
O lado de fora e o lado de dentro
O espaço interno e externo
Corpo e alma

Aí está a maestria da infância que, em sua espontaneidade e liberdade, expressas no brincar, redefine tempos e espaços, inaugurando, com sua imaginação, um universo simbólico, misterioso em sua essência, pois transcende qualquer dualidade. Assim, caixas de papelão, caixotes de madeira, tecidos, pregadores de roupa, placas de compensado e outros materiais que possibilitem o manuseio das crianças na construção de suas casas e de outros espaços que brotam de sua imaginação, passaram a estar presentes no cotidiano de aproximadamente trinta crianças, entre dois e seis anos, que passam as manhãs brincando na Casa Redonda.

A disputa por esses elementos, que possibilitam a construção livre e concreta de seus territórios, foi ganhando presença especial, passando a constituir os materiais indispensáveis para o desenvolvimento do que chamamos aqui de “brincadeira de casinha”. Uma atenção, cuidadosa e constante, do desenrolar dessas brincadeiras ao longo desses anos, foi nos apontando e confirmando a relação de fato existente entre a construção do espaço “casa” e sua correspondência com o desenvolvimento e estruturação do “eu”.

As crianças expressam para nós, como os poetas, aspectos encobertos da nossa alma. Aspectos que precisam ser revistos para serem compreendidos como elementos pertencentes a nossa história. Afinal, somos uma espécie que habita uma casa – planetária – e viemos, ao longo de milhões de anos, construindo passo a passo nossa relação com o meio, buscando encontrar nosso lugar, individual e coletivamente.

“No começo era o caos”, segundo o poeta Hesíodo em sua obra Teogonia, 116. “Lá existe o espaço aberto, a pura extensão do ilimitado, o buraco insondável! De repente, a primeira realidade sólida se inicia: Gaia, a Terra. Isso deu sentido ao caos, estabeleceu limites, instalou o chão”. A Terra como geradora de plantas, árvores e flores que brotam, presenteando animais e seres humanos com sua nutrição, sempre foi comparada ao corpo feminino, que, por sua vez, simboliza a “casa” como um receptáculo, um continente.

O corpo da mãe representa a Terra, a casa, o chão, simbólicos gestos de uma entidade que acolhe a criança – o princípio feminino em seu aspecto maternal de receptividade. Através do relacionamento com a mãe, a criança experimenta sensações de proteção, sentindo-se recebida, contida e nutrida. Seja quem for que exerça esse papel o de ser receptivo, de proteger e cuidar da criança, coloca-a em contato com essa sensação de pertencimento a um lugar, de chegar à sua casa. Esse espaço maternal assemelha-se a um refúgio, um lugar secreto, por que não dizer sagrado, onde criança e adulto criam uma comunicação não verbal significativa, nascida do contato corpo a corpo, alma a alma, dando início a primeira e universal linguagem de conhecimento do ser humano: o brincar.

O primeiro laço de pertencimento a um lugar, a um chão, é estabelecido por essa matriz continente e vinculadora de onde surgem os primeiros elos de uma cadeia afetiva nascida do contato, da comunicação e comunhão entre pessoas.

“A primeira vivência biológica de todos os seres é a vivência da “concavidade”, nos explicou o médico Paulo Machado em seus cursos na Casa Redonda e continuou: “É na concavidade uterina que o óvulo em sua forma redonda é acolhido e, uma vez fecundado, dá início à divisão celular, passando a desenvolver sua história embrionária. Essa vivência da concavidade se processa ao longo da existência, porque do útero, do abdômen materno, a criança vai ser acolhida na concavidade do colo, depois segue para o berço, para a rede, onde ficará protegida. Do berço, a criança passa a conviver dentro da casa que, em essência, é o ninho que substitui a concavidade protetora do útero.”

“Ora, não é por acaso que as crianças pequenas gostam de entrar em caixas, caixotes, espaços que mais se assemelham a uma concavidade, espaços que sejam continentes. Como numa espécie de gruta, ali brincam de um entrar e sair constante, em que o dentro e o fora, certamente, vão constelando recordações de experiências corporais há pouco tempo vivenciadas.

Todos já tivemos oportunidade de observar crianças entrando embaixo de mesas, de camas, de cadeiras, juntando almofadas ou objetos para construir cabanas, criando áreas protetoras que as circundam, por certo, sentindo uma relação de proporcionalidade entre o corpo e o espaço externo, além de estarem expressando mistérios que envolvem recordações e reconhecimentos de si próprias.

Nas brincadeiras de casinha, além de envolver-se num abrigo, a criança recria sua relação com o princípio feminino, o ser receptivo, acolhedor e protetor, simultaneamente vinculado à presença do princípio masculino, o impulso em direção ao crescimento, a ida para o mundo, ambos representando o movimento de energias presentes em nossa psique e inerente a cada um de nós.

A casa, o corpo, o eu, essa tríade é revelada na brincadeira de casinha. Espontaneamente expressando sua casa, seu refúgio, a criança experimenta, no seu próprio corpo, seu “chão”, seu “teto”, suas “paredes” e sua “porta”, criando uma estrutura básica que a coloca num movimento de diferenciação entre ela mesma e o seu entorno. Através desse processo de organização interna, a criança vai construindo, degrau por degrau, a consciência de si mesma e consequentemente a estruturação do seu eu. No início dessa brincadeira é comum a criança preparar o seu próprio ninho colocando os caixotes como paredes, buscando uma cobertura para o teto, definindo uma das caixas como a porta que ela, a qualquer momento, poderá abrir ou fechar, entrar e sair, ficando ali aninhada, num ambiente em que a luz penetra pouco, criando uma atmosfera de recolhimento. Dentro dessa casa, inicialmente individual, aquela que uma criança constrói só para si, uma almofada é colocada no chão como travesseiro sobre a qual ela se deita.

Assistindo frequentemente a essa cena, fomos providenciando almofadas, esteiras, tecidos e compensados leves que pudessem solucionar a necessidade de as crianças construírem seus próprios espaços de um modo cada vez mais autônomo, na medida em que os materiais fornecidos permitem acesso e manuseio adequados às suas possibilidades.

Aí está o berço. Um lugar para se aninhar, descansar, ficar em silêncio por alguns momentos, quem sabe ficar sozinha, liberando-se da presença constante do adulto, que ora é acolhedora, ora é sufocante. Nesses tipos de casinhas construídas pelos menores, os movimentos de entrar e sair são sempre marcados por uma postura mais horizontalizada, isto é, a criança entra e sai agachada e logo se estende para sentar ou deitar dentro da casa. A criança sempre designa uma das caixas para ser a porta e sempre é exatamente essa caixa que usa para se deslocar, seja para entrar ou sair, na maioria das vezes engatinhando. A determinação da porta de entrada e saída sempre nos chamou atenção pela presença constante e concreta. A criança não vacila, em momento algum, sobre qual foi o caixote que recebeu a função de área determinada para estabelecer essa ligação entre o espaço de dentro e de fora. Esse espaço determinado para ser a porta não se altera do começo ao final da brincadeira, e remover qualquer outro objeto para abrir passagem e entrar na casa é uma real fonte de conflitos entre as crianças.

Simbolicamente, a porta é a passagem que representa a transição entre o espaço interior e o exterior. As crianças vivenciam, repetida e intensamente, esse movimento de entrada e saída na maioria das brincadeiras em que são configurados com objetos os limites entre o espaço interno e externo. Aos poucos, como resultado das interações afetivas que ocorrem espontaneamente durante as brincadeiras de casinha, as crianças passam a agregar parceiros que vão surgindo, e a casa passa por um processo de expansão, na medida em que o espaço tem de se adequar aos novos companheiros da brincadeira.

A casa-abrigo e ou a casa-berço, como espaços de proteção, passam espontaneamente a possuir uma relação com a nutrição. Surgem as mesas em que a comida será servida. As preparações e distribuições de comida tornam-se sempre cerimônia de que todos os que convivem na casa participam.

Misturas de cereais viram comidinhas preparadas e servidas pelas próprias crianças em potinhos de barro. A não utilização de objetos de plástico é proposital, por permitir o exercício de maior cuidado com o uso dos objetos. A habilidade motora fina vai sendo construída através de situações significativas dentro das brincadeiras. Gradativamente, correspondendo ao crescimento das crianças, a construção das casas passa a estabelecer relações mais ajustadas ao tamanho, à função e aos papéis a serem assumidos, os quais são sempre estabelecidos previamente. Uma interação entre corpo e casa define o espaço a ser construído, passando a existir uma sintonia de relações e proporções adequadas. As funções de cuidado e alimentação tornam-se partes essenciais dessas brincadeiras de casinha, com o aparecimento da figura da mãe e do filho. A mãe torna-se a figura poderosa que organiza a casa, cuida dos filhos e define a hora de comer, dormir etc. A disputa pelo papel da mãe pelas meninas é uma constante. Certa vez, assistimos ao seguinte diálogo que precedia a escolha de quem ocuparia o papel da mãe:

“Você é a mãe, e eu sou quem manda na mãe.” “Então você é a avó!” “Eu não sou a avó, porque minha avó não manda na minha mãe!” “Então você não vai brincar.” “Vou sim, porque eu sou quem manda na mãe!” “Quem manda na mãe?”

Essa fala simboliza como a criança vê a mãe como uma figura poderosa e busca então um personagem, que sequer tem nome, a quem delega um poder que ultrapassa a autoridade da mãe. A brincadeira teve início após muitos desafios pela disputa de quem exerceria o poder dentro da casa.

Essas situações de confronto vividas nas brincadeiras explicitam atitudes mais ou menos autoritárias, de uma ou outra criança, que ao se colocar sempre querendo ocupar o posto de comando, muitas vezes é excluída da brincadeira. Esses momentos, além de uma experiência importante para todos, são uma oportunidade concreta de atuação do educador.

O educador pode então reunir o grupo e desenvolver, com a criança excluída, a consciência das causas do conflito, dando oportunidade para todos se explicarem, buscando descobrir uma solução entre os parceiros da brincadeira. A possibilidade que a criança tem de experimentar, durante as brincadeiras, situações concretas de convívio com parceiros de diferentes idades, permite experiências significativas de relacionamento afetivo. A generosidade, a solidariedade e o sentido de proteção e cuidado brotam espontaneamente nas situações em que as crianças maiores brincam com as menores, surgindo oportunidades concretas para o desenvolvimento de atitudes de empatia que envolvem colaboração, saber se colocar frente aos companheiros, saber escutá-los e procurar soluções para resolver os possíveis conflitos.

Encontramos muitas vezes nessas brincadeiras uma representação do quadro familiar em que as crianças se definem como pai, mãe e filho. O filho escolhido se encontra entre as crianças menores, que aceitam num primeiro momento de maneira tranquila esse papel, enquanto a situação para ele é confortável por estar recebendo carinho e cuidado.

A menina convive com seu instinto maternal, caracterizando o papel de mãe dentro do espelhamento com sua própria vivência e, o mesmo acontece com o menino, ambos interagindo e elaborando cada um ao seu modo as relações, ora afetivas, ora carregadas de tensão, na disputa de quem tem mais autoridade sobre o filho. Este, por sua vez preenchido num primeiro momento pela atitude amorosa e protetora, principalmente por parte da mãe, cria vínculo com ela até o dia em que se sente aprisionado e diz que já ficou grande e passa a não querer mais se adequar a um personagem estabelecido por outro que não ele próprio.

A figura paterna aparece sempre como um elemento que participa da construção da casa e, depois, no desenrolar da brincadeira, vira um personagem que sempre está fora, trabalhando, viajando ou comprando coisas para a casa a pedido das mães. Quando as casas envolvem mais crianças, e surgem mais personagens, sejam mais filhos configurando a relação de irmãos, elas passam a ter subdivisões e detalhes como cozinha, sala de almoço, quarto, cada compartimento estabelecido e protegido por “paredes” divisórias com suas respectivas e importantes “portas” de acesso para o mundo de fora. O educador que presencia essas brincadeiras aprende e apreende sinalizações importantes do comportamento da infância, desenvolvendo uma leitura objetiva, porque subjetiva, da cultura da criança, isto é, da maneira própria e única como ela vai se apropriando do mundo que a circunda, conhecendo e reconhecendo-se através do brincar. São momentos importantes para percepções de como as crianças vão interagindo com os padrões socioculturais presentes no seu entorno.

Comportamentos que vão passando de geração para geração e que cabe ao professor observar e ampliar as possibilidades de novas percepções e consciência sobre as relações intersociais em desenvolvimento. Enquanto as meninas criam mais frequentemente suas casas e ali enraízam o seu mundo, desenvolvendo suas funções femininas, os meninos criam construções que eles nomeiam de casas-carro, deslocando-se através de sua imaginação para diferentes regiões da Terra, chegando a planetas distantes. Casa e mundo são uma coisa só para eles. Diversas representações do universo masculino são apresentadas, impulsionadas para desafios construtivos sofisticados, realizando casas de dois, três até quatro andares. Há anos em que o grupo de meninos auxiliados pelos professores chegam a desenvolver projetos de casas na árvore, cabanas no mato, como abrigos dos monstros imaginários, respondendo à necessidade de exploração constante do espaço à volta. Os caixotes, como representações dos tijolos, são utilizados diariamente na Casa Redonda, possibilitando variadas construções, com funções estabelecidas pelas crianças, que desenvolvem uma organização espacial cada vez mais complexa na qual os detalhes e as soluções dos aspectos construtivos extrapolam qualquer programação preestabelecida pelos adultos.

Hospitais, salas de massagem, lojas, bancas de limonada, restaurantes, museus, bibliotecas, naves espaciais, navios de pirata, caminhões, ônibus, trens, aviões, motos, carros, casas de dois a quatro andares são alguns exemplos de construções que surgem a partir da utilização desses caixotes. Caixotes de manuseio acessível às crianças entre dois e seis anos de idade, quando brincam juntas num espaço que aposta na capacidade criativa como essência do processo de desenvolvimento do ser humano. Nossas observações através da “construção da casa” reafirmam nossa compreensão de que, através do brincar, a criança constrói a si mesma, num contínuo processo em direção à autoconsciência. Acreditamos que, durante a construção e organização das casas, das mais simples às mais complexas, há uma ordenação interna sendo feita simultaneamente.

É como se as casas fossem o universo que as crianças constroem para si mesmas, repetindo-o durante quase toda a fase de sua infância em diferentes formatos. Estariam essas crianças delimitando e dando referência ao seu lugar no mundo, um mundo menor, que mantém correspondência com o mundo maior? Necessidade de manutenção de uma esfera pessoal, um espaço de recolhimento, interiorização e proteção, deixando apenas janelas e portas como aberturas para o mundo exterior?

Compreendemos essa brincadeira como um movimento natural, uma sabedoria inerente à criança que se reconhece e oportuniza respostas às suas necessidades. Nesse constante brincar de casinha, elas aperfeiçoam sua capacidade de ordenar o espaço quando lhes são dados recursos para criar suas próprias organizações. Buscar os materiais necessários para as suas construções é a tarefa de cada criança que exprime sua vontade de fazer uma casinha. Estes estão sempre disponíveis à possibilidade de a criança exercer sua iniciativa sem necessitar da presença constante do adulto para a realização do seu projeto.

A experiência de colocar objetos aleatoriamente pela simples necessidade de tê-los em casa gera um espaço desorganizado que logo é percebido por uma criança que se dispõe a arrumá-lo, criando uma ordem e gerando a ampliação do espaço para as outras se deslocarem. Essas percepções de ordem e desordem vão sendo construídas na experiência concreta das crianças, que vão transportando para outros momentos da vida essas qualidades de uso e orientação espacial.

Elas mesmas verbalizam que o tamanho da bagunça é o tamanho da arrumação e, na prática diária de suas atividades, são responsáveis por aquilo que utilizam. No exercício de guardar os objetos, cabe a nós, professores, estar junto e acompanhar a organização até que seja incorporada como prática cotidiana. Na Casa Redonda, o espaço é organizado pelos professores, e a sua arrumação no final das atividades é uma tarefa diária. No período que precede a finalização do dia, juntos, professores e crianças, podem se ajudar mutuamente na organização.

O compromisso da arrumação como atividade, que não é maior nem menor do que as outras desenvolvidas durante o dia, colabora para formação da atitude de cooperação na arrumação do espaço. Sabemos da dificuldade que algumas crianças têm nesses momentos, fugindo da situação ou justificando que não foram elas que desarrumaram e que por isso não irão ajudar.

A noção do espaço como algo que pertence a todos é interiorizada no exercício constante dessas atividades propiciadoras de um compromisso com o coletivo. Nesse sentido, a educação dos primeiros anos deverá estar atenta ao seu papel fundamental de “ajudar a fazer eu”, como expressou claramente uma criança, sabendo que essa construção se dá na relação com o outro, num espaço social que é de todos, diferenciado do espaço até então vivenciado dentro do lugar onde ele mora, sua casa, sua família. Estamos aqui tratando da importância da relação da criança com o espaço e da necessidade de espaço para a criança. Vivemos e agimos no espaço, é nele que se dá tanto nossa vida individual quanto a vida coletiva da humanidade.

Vivemos uma escala ascendente na nossa relação com o espaço, caminhando do ovo ao ninho, do ninho à casa, da casa à pátria, da pátria ao universo como nos relata Gaston Bachelard. Nesse sentido, a criança em suas brincadeiras de casinha está percorrendo essas matrizes iniciais que as vinculam positivamente a um espaço concreto que vai se expandindo naturalmente e, através da vivência da casa, ela poderá adquirir familiaridade com espaços cada vez mais abrangentes. Se o vínculo estabelecido nos espaços vivenciados são positivos, a criança adquire confiança para entrar em contato com novos espaços. Se, ao contrário, os espaços vividos trouxeram experiências negativas, por serem opressores e limitados, qualquer outro espaço passa a ser ameaçador, e a criança pode vir a se tornar medrosa e passiva.

O importante nessas brincadeiras é a característica das relações vitais construídas num determinado espaço. O espaço, portanto, é o meio da vida humana que ali se expressa. Criar oportunidade para a criança organizar o espaço de suas brincadeiras é criar possibilidades para ela se experimentar como um ser de relação, num lugar concreto e real, no qual acontece a vida.

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