Passos de um caminho...

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Passos de um caminho...

[...] o mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não são sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas estão sempre mudando. Afinam e desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

Esse tema que abraçamos nos propõe entrar em contato com o OUTRO LADO, o lado além do horizonte, onde, por certo, se encontra a Bela Adormecida à espera de um toque sutil para despertar. Do lado de cá, um homem corajoso, em sua inteira disponibilidade, depara-se com um CAMINHO estranho, talvez perigoso, porque cheio de obstáculos a serem enfrentados. O impulso que o atrai em direção ao outro lado o faz vencer o medo do desconhecido e, ultrapassando as dificuldades da travessia, encontrar a Bela Adormecida e se dispor a acordá-la. Assume esse homem o caminho do herói, aquele que segue o seu próprio coração.

Para esse ato é preciso coragem. COR-AGEM a ação do coração.

O gesto do encontro traz uma novidade, uma nova idade, na qual acontece o desabrochar do tempo e espaço internos, marcando um novo ritmo, fazendo surgir o imprevisível, o inesperado, o misterioso que paradoxalmente pertence ao não tempo e ao não espaço. O que faremos através desta conversa é nos iniciar num olhar sobre o tema, tentando deixar para trás nosso ser habituado e enveredar, apesar das resistências, no ser habitado que somos e que a palavra educação em sua etimologia nos confirma.

A palavra educação traz em sua derivação da raiz latina as palavras educare e educere. Escolhemos esta última derivação por uma razão muito simples. A vontade de encontrar o equilíbrio e a complementaridade, tão necessários nas reflexões do nosso tempo. Educere traduz uma ação cujo movimento se dá de dentro para fora, do interior para o exterior. A determinação de seguir esse movimento é uma opção clara face ao fato de o significado da educação como educare, em que ocorre o movimento oposto, de fora para dentro, já se encontrar exacerbadamente objetivado em nossos sistemas de educação ocidental, em que programas e metodologias assumem o aprendiz apenas como um objeto a ser ensinado.

Enveredamos em nossa prática no caminho de buscar o ser que está encoberto, à procura de um lugar para contar a sua história, que se reunirá a tantas outras histórias, que na verdade vão falar de uma mesma história, aquela que a alma, aqui entendida como nosso registro da unidade, contará ao nosso “tempo e espaço”, instâncias criadas por nós humanos para entender e explicar as coisas do mundo. Ora, ninguém conduz ou extrai algo inexistente.

O movimento de extrair ou conduzir pressupõe a existência de algo ou de alguma substância que precisa aflorar, aparecer, surgir, se manifestar. A educação assim compreendida nos faz lembrar de uma frase do Talmude, que diz o seguinte: “Cada haste de relva tem o seu anjo, que se inclina sobre ela e sussurra: Cresce, cresce!”.

Acreditamos ser essa presença o impulso para o crescimento, a substância, o ser ou a essência que nos habita e cujo trajeto se orienta de dentro para fora. Podemos observar no simples olhar para o crescer de uma semente e no crer-ser de uma criança. A palavra educação, se traduzida ao pé da letra, como diz o povo, ou ao pé do som, como dizem nossos índios, ou ainda ao pé do fonema, como diz o linguista, é compreendida por nós na sua essência como um movimento, o “deixar acontecer”, a manifestação do impulso criativo contínuo, o elã vital, como diria o filósofo Henri Bergson ou, mais simplesmente, a vida que pulsa em cada ser vivo. Vemos a educação como uma ultrapassagem constante e não o simples reconhecimento do que está estabelecido e muito menos a mera logicidade. A capacidade de ultrapassar está sempre baseada numa assimilação sensível.

Essa consciência nascida da mediação com o mundo através da ação, da experiência, revela conhecimentos que nos obrigam à revisão constante e nos abrem para a compreensão de que o conhecimento é comunitário e não individual. Os educadores que se encontram em contato direto com as crianças nas escolas vêm sentindo a inadequação do modelo educacional existente, e suas insatisfações anunciam a possibilidade de recriação desse sistema, a partir de uma ressignificação da palavra educação.

Vislumbrarmos a educação como o processo através do qual o impulso de vida presente na essência do humano entra em seu movimento singular e se manifesta. Manifestar, por sua vez, significa a festa das mãos, o que implica num profundo sentido simbólico, pelo fato de o surgimento das mãos, ao longo do desenvolvimento humano, completar uma construção evolucionária e revolucionária desse impulso de vida. Milhões de anos se passaram para fazer surgir nossas mãos. Elas são os prolongamentos do primeiro órgão que surge no embrião humano: o coração. A compreensão dos braços e das mãos como extensões do coração é importante para o tema sobre o qual estamos refletindo: o sensível na educação.

Temos profunda reverência pelas mãos e aprendemos a conhecê-las melhor a partir do contato com as crianças, convivendo com elas num espaço da natureza. Para as crianças, as mãos são o órgão da visão. As crianças veem com as mãos, veem com o coração. Elas estão a todo o momento verbalizando “deixe eu ver”, e simultaneamente suas mãos tocam o objeto. Nossas mãos nos permitem visualizar fisicamente a possibilidade de reunião dos dois lados em profunda harmonia, evidenciando a complementaridade que se integra no nosso corpo em gesto de unidade. São as mãos também que configuram para nós, na simplicidade de uma mão fechada, a presença simultânea de um lado de dentro e de um lado de fora.

“[...] O cérebro perguntou e pediu, e a mão respondeu e fez. Na verdade, são poucos o que sabem da existência de um pequeno cérebro em cada um dos dedos da mão [...]. Para que o cérebro da cabeça soubesse o que era pedra, foi preciso primeiro que os dedos a tocassem, lhe sentissem a aspereza, o peso, a densidade, foi preciso que se ferissem nela. Só muito depois, o cérebro compreendeu que daquele pedaço de rocha se poderia fazer uma coisa a que chamaria faca e uma coisa que se chamaria ídolo. O cérebro da cabeça anda toda vida atrasado em relação às mãos, e mesmo nestes tempos, quando nos parece que passou à frente delas, ainda são os dedos que têm de lhe explicar as investigações do tacto, o estremecimento da epiderme ao tocar o barro [...].” José Saramago

A relação mão-olho-coração é de extrema importância para a constituição do córtex cerebral, a área do cérebro mais recente e ainda em formação na espécie humana. O desenvolvimento da linguagem é antecedido pelos gestos, e estes carregam dimensões subjetivas capazes de qualificá-los como raízes do pensamento. Certa vez, uma criança satisfeita com a realização de seu trabalho com argila verbalizou com total serenidade esta fala: “Sem pressa, eu consigo fazer as coisas bonitas. Sabe por quê? A minha mão ouve o meu pensamento, e o coração também. Sem o coração nada dá certo”. Omar, aos cinco anos

Nesses momentos, somos tocados pelas crianças e simultaneamente nos sentimos comprometidos como adultos a uma compreensão mais profunda do significado do coração. A determinação e clareza da mensagem dessa criança antecipam e abordam diretamente uma questão do nosso tempo: o equilíbrio entre pensamento e sentimento ao encontro de um amor inteligente.

As civilizações da Pré-História até nossos dias têm abordado o significado do coração de diversas maneiras, apontando sempre a ideia de essencialidade. Para os egípcios, o coração estava intimamente associado à alma, e sua presença era tão importante que se tornava o único órgão deixado no corpo durante a mumificação. Manifestar a pulsação da vida comungando o sentimento por outro ser humano, por si mesmo, pela humanidade e pela Terra, projeta o lugar central que o coração ocupa em diferentes culturas, e que as crianças captam espontaneamente, insistindo em representá-lo constantemente em seus desenhos e suas modelagens.

Os sentimentos de identificação, de confiança, de segurança e de trocas afetivas entre os seres humanos são atribuídos ao homem interior que habita o coração e o caracteriza como sede da inteligência, da vontade, da sabedoria, da decisão ética: o centro da vida. É através dele que o homem espiritual vive sua experiência individual pensando, decidindo, fazendo projetos e afirmando a sua responsabilidade para com seus semelhantes. É o coração que nos permite amar como uma criança, numa entrega totalmente confiante e sem reservas.

Recentemente, neurologistas e cardiologistas vêm transformando o modo de ver da ciência sobre o coração. Até então, esse órgão era visto como um músculo, uma bomba distribuidora de sangue para todo o organismo. Hoje, pesquisas confirmam no coração a presença de 65% de células neurais idênticas às do cérebro, que estão em conexão direta com o sistema límbico responsável pelo nosso comportamento emocional. Essa descoberta referenda a antiga afirmação: “O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece.” Blaise Pascal

“[...] As ações do coração precedem as ações não só do corpo, mas também do cérebro.[...] Hoje se sabe que ele faz mais do que simplesmente exortar; ele controla e governa a ação cerebral por meio de hormônios transmissores e possivelmente energias quânticas mais sutis.[...] O hormônio conhecido como ANF tem impacto sobre a ação do tálamo, determinando sua dinâmica com a glândula pituitária, a assim chamada glândula-mestra que regula os hormônios endócrinos. Esse hormônio está presente no sistema imunológico e na propensão do organismo à cura; ele tem impacto sobre o hipotálamo e a glândula pineal, regulando a produção e a ação da melatonina; além disso, ele desempenha um papel-chave em nossas emoções, nossa memória e aprendizagem. Uma célula cardíaca desempenha um duplo papel: além de contrair-se e expandir-se ritmicamente para bombear sangue, ela se comunica com suas vizinhas. Se você isolar uma célula do coração, a mantiver viva e a observar no microscópio, verá que ela perde o ritmo e a sincronia e começa a fibrilar até morrer. Se você isolar outra célula cardíaca e a puser na lâmina, ela também fibrilará. Mas se você colocar essas duas células a uma certa proximidade, elas entrarão em sincronia e baterão em uníssono. Elas não precisam estar em contato; podem comunicar-se através de uma barreira espacial. Aqui não se trata de nenhuma paixão a distância, trata-se da não localidade.[...] O coração, formado por vários bilhões dessas células que operam em uníssono, está sob orientação de uma inteligência superior não localizada.[...] Essas células cardíacas comunicam-se por intermédio de sua base de relacionamento mutuamente não localizada, um campo de inteligência que é um “coração” maior, mais universal, não físico – a consciência criadora em si.” Joseph Pearce

É comum haver troca de informações através do espaço/tempo entre pessoas mutuamente ligadas. Aqui, entretanto, trata-se de nossa verdadeira biologia, da lógica de nosso sistema de vida, da linguagem do coração. Essas informações e o aprofundamento dos conhecimentos que a neurobiologia vem trazendo para nós são pontos fundamentais aos poucos incorporados à nossa consciência, traduzindo ligação entre cabeça e coração em nossa prática educativa.

Essa sintonia neurológica entre o cérebro e o coração trazida atualmente pela ciência irá, certamente, colaborar na redefinição do espaço educacional, hoje unilateralmente ocupado pelo referencial cognitivo. Essa reunião será a propulsora de um salto quântico na história da educação do século XXI, que chega no seu início ainda revestida pela roupagem racionalista do século XVIII, quando o poeta William Blake, desde lá, antecipava o perigo da unilateralidade ao expressar em seus versos: “As crianças do futuro irão dizer que no passado o amor, o doce amor, era pecado”. As crianças do futuro são as nossas crianças, a maioria adoecida pela dissociação que a educação referendou, e referenda ainda, em suas grades curriculares, em que se estampa a fragmentação de um ser cujo corpo se restringe à cabeça. Ora, o sutil da educação já está aí anunciado pela rebeldia das crianças e pela insatisfação de uma grande parcela de professores com o atual modelo da maioria de nossas escolas. Aqui e ali começam a surgir elementos de reconhecimento, a partir da interligação entre as várias áreas do conhecimento, em que imparcialidade do sujeito passa a ser questionada, animando, isto é, trazendo à tona a alma humana como presença viva no processo criador de construção do conhecimento. O que estava lá dentro aprisionado, o encoberto, vai se revelando aos poucos.

Aqueles que têm olhos para ver estão assistindo ao espreguiçar da Bela Adormecida, na medida em que o impulso de vida se manifesta, tocado pelo acorde do coração. Esse caminho é irreversível, ele irá se instaurar, porque o seu compromisso é com a vida. Estamos vivendo uma ultrapassagem. Nosso desconforto está justamente ligado a velhos hábitos de pensamentos. Uma vez cristalizados, solicitam que façamos com eles o que fazem as crianças com seus brinquedos: reviram-nos de todos os lados, montando e desmontando para montar de novo, recriando novas formas. A vida gosta de brincar de balanço, certamente à procura do equilíbrio, da proporção correta.

A hora nos pede para juntar as nossas mãos em todos os seus sentidos simbólicos. Juntarmos os lados dos nossos hemisférios cerebrais. A evolução biológica já nos preparou para esse experimento e estamos prontos, só precisamos nos dispor a desenvolver aquilo que está adormecido ou foi adormecido, abrindo-nos à experiência através do desconhecido, libertando-nos dos medos que comprometem a ultrapassagem, o movimento que nos permite ver mais além – trans-ascender.

Certo dia, assisti a duas crianças brincando sobre uma esteira. Atenta aos seus movimentos percebi que se apoiavam na ponta dos pés com o corpo bem esticado, com os braços abertos como se fossem duas enormes asas se movimentando em gestos amplos, suaves e muito lentos. Aos poucos, os pés iam se encostando ao chão, e seus corpos iam se abaixando devagarzinho, como se fossem pássaros pousando lentamente em algum lugar.

Entretanto, ao tocarem o chão, quando sentavam, seus movimentos mudavam imediatamente, transformando-se em gestos bruscos, agitados, como se os corpos se contorcessem ao tocar uma superfície dura, espinhosa que os deixava extremamente irrequietos. As crianças repetiram várias vezes, totalmente entregues a esses dois movimentos, como costumam fazer a maioria das crianças em algumas de suas brincadeiras, quando algo de mais profundo emerge como aprendizado interno.

Algumas crianças foram se aproximando e olhando atentamente aqueles movimentos que pareciam, a princípio, feitos em câmara lenta e, de repente, se alternavam entre gestos extremamente descontraídos e outros extremamente tensos e rígidos. Essa passagem alternada de gestos divertia as crianças que estavam assistindo à brincadeira. Lá pelas tantas, uma das mais curiosas perguntou: “Vocês estão brincando de passarinho caindo do ninho?”. E um deles prontamente respondeu meio bravo: “Que passarinho nada! Nós estamos descendo do Céu para a Terra. É assim que a gente nasce”. “A gente desce do Céu e cai na Terra, e a Terra é muito dura!”. Sim, a Terra onde eles pisavam era dura! Mas quem é esse ser alado que imagina o espaço entre o Céu e a Terra?

As crianças muitas vezes expressam em suas brincadeiras a vontade de voar. Pequenos Ícaros surgem aqui e ali querendo desafiar o limite que os atém fisicamente à Terra. As pipas, por exemplo, há milênios empinadas pelas crianças de quase todo o mundo, vêm anunciando persistentemente o impulso de vida que se manifesta em direção ao alto através dos gestos simples presentes nessa brincadeira.

“-O bom da pipa não é mostrar aos outros, é sentir individualmente a pipa, dando ao céu o recado da gente. – Que recado? Explique isso direito! João olhou-me com delicado desprezo. – Pensei que não precisasse. Você solta o bichinho e solta-se a si mesmo. Ela é sua liberdade, o seu eu, girando por aí, dispensado de todas as limitações.” Carlos Drummond de Andrade

Ressonância do próprio crescimento físico que os impulsiona constantemente para o alto? Memória coletiva da transcendência humana? Aquele impulso para o transascender?

Todos nós somos atraídos por uma criança que brinca. Somos atingidos e afetados por certo campo magnético que a circunda – ficamos como que encantados –, e tal encantamento é justamente fruto dessa qualidade de compenetração, de inteireza, de totalidade. Durante um bom tempo, fomos ao encontro das brincadeiras que aconteciam nas ruas da periferia buscando contato direto com a criançada, para compreendê-las naquela atividade para a qual se dirigiam de livre e espontânea vontade.

Conviver com as crianças brincando nos estimulava a compartilhar daquela condição de comunhão e unidade que se manifestava como uma presença a ser reverenciada. Tocados por essa atmosfera, sentíamos brotar dentro de nós uma nostalgia que reunia passado, presente e futuro num só tempo, identificado como uma aspiração interna ao reencontro com aquele estado de plenitude. O arquétipo da unidade presente na entrega da criança ao seu brinquedo ou às suas brincadeiras cunhava em nós a complexidade deste tema. Estávamos nos iniciando a uma compreensão mais profunda do que acontecia verdadeiramente naqueles gestos que reuniam a criança e o brinquedo em uma coisa só.

Nosso olhar sobre as brincadeiras tradicionais que ocorriam em várias ruas dos bairros em que caminhávamos não se tornou para nós um relato do fenômeno em si, mas a descoberta, o desvelamento, a cada dia, de um mistério – a presença de uma linguagem universal das crianças e de uma história que ultrapassa seis mil anos de registros. Não estávamos ali diante de qualquer coisa, mas da reapresentação de gestos milenares plasmados no corpo do ser humano, trazendo para nós o reencontro com a relação do homem e a natureza, um estado do ser. Era como se estivéssemos tocando algo cuja concentração energética emanava radiações, e, querendo ou não, éramos atingidos e afetados por um compromisso com o que olhávamos, escutávamos e sentíamos.

Nessa caminhada, onde de fato caminhamos, ampliando nosso percurso pelas ruas de várias cidades brasileiras encontrando crianças brincando, identificamos verdadeiros rituais, principalmente reminiscências de uma relação de interdependência entre o homem e a natureza presente no seu processo de desenvolvimento.

A comunicação sem obstáculos entre o inconsciente e a consciência permite que as crianças, em suas brincadeiras, participem de um fluxo vital ininterrupto, ligando-se a um universo cuja extensão é difícil descrever por palavras, uma vez que pertence a uma narrativa em movimento que extrapola a linearidade do discurso. Suas brincadeiras são relatos gestuais, ressonâncias das formas de expressão humana que representam um passado longínquo – de tempo às vezes indeterminado. A relação de identidade entre as brincadeiras tradicionais e a ação sagrada vem sendo refletida por vários autores. Ao se debruçar sobre esse assunto, consideram a afirmação de Johan Huizinga que aponta estar presente nas brincadeiras algo mais que uma realização aparente, algo mais que uma realização simbólica. Ele toca num ponto extremamente sutil que definiu como “o elemento adicional, espiritual, presente nas brincadeiras”. Esse aspecto mais profundo do entendimento das brincadeiras tradicionais adquire o caráter sagrado pelo fato de ser uma relembrança de um processo mais elementar, do tempo originário, que ainda hoje produz um novo despertar daquela comoção primeira, como um acervo cultural que, passando de geração para geração, imprime no corpo dessas crianças que brincam aquela “recordação” de que fala Platão.

Essas manifestações culturais presentes nas brincadeiras das crianças são ainda hoje motivo de nossas constantes buscas e indagações sobre as forças criadoras que as originaram. Compartilhamos do reconhecimento da presença desse “elemento adicional espiritual” no ato de brincar, sabendo que não temos a pretensão de esgotar esse tema, por ser muito difícil descrevê-lo com exatidão, uma vez que se trata de um estado do ser, em que a liberdade de ação, o desprendimento de toda a finalidade e a alegria que se faz presente, qualifica-o como um processo eminentemente criador.

A documentação fotográfica que durante dois anos desenvolvemos nas ruas de Carapicuíba,no estado de São Paulo,atentas principalmente à brincadeira de pipa, ampliou nossa percepção e nos fez compreender o sentimento que brotou dentro de nós diante da presença de algo inominável que emanava da fisionomia daquelas crianças, demonstrando um estado de ser até então desconhecido por nós. Foi aí que nos encontramos e nos identificamos com leituras que fundamentaram e aprofundaram nossa reflexão sobre o entendimento de certas brincadeiras tradicionais como reminiscências de certos cultos, sendo que não se sabe ainda definir se o jogo antecede ou precede o culto.

Nossos companheiros dessa jornada de ampliação de conhecimentos foram autores como Jean-Marie Lhote, Adolf E. Jensen, Johan Huizinga, Roger Caillois e René Alleau, nos quais encontramos significativas informações que nos tornaram sensíveis a uma compreensão mais profunda das brincadeiras tradicionais, abrindo um portal para a identificação desses mesmos sinais na cultura da infância. No corpo da criança que brinca de pipa, por exemplo, víamos estampados, ou melhor, plasmados, o entusiasmo, a tensão, a solenidade, a ordem e toda uma gama de sentimentos, sensações, pensamentos e intuições pertencentes aos mistérios dos ventos, das crianças e das pipas que sobem aos céus e descem à terra periodicamente.

A atmosfera que envolve o espaço da brincadeira mostra a criação de uma unidade entre a criança e a natureza, marcada pelo ato de liberdade da ação e pelo desprendimento de toda a finalidade e interesse material. Ao construir, soltar e recolher a pipa, a criança abre e fecha espontaneamente em si mesma o ciclo de sua interação com a estação dos ventos. Ali ela inaugura um tempo e um espaço distintos do cotidiano. Um tempo marcado pela duração do seu interesse, impresso na ligação espontânea que se estabelece entre a criança e o brinquedo. Um espaço marcado por um campo de forças em movimento criando uma “ordem” em que regras são estabelecidas e inventadas provisoriamente. Tempo e espaço são “consagrados” àquela atividade que rompe e transcende o ritmo da vida propriamente.

Os meninos que brincavam com suas pipas, com os pés fincados na terra, o corpo ereto e o olhar voltado para o alto em direção aos céus num sereno e harmonioso equilíbrio corporal, nos revelavam o fio de ligação entre a Terra e o Céu, reunindo naquele gesto todas as polaridades que até hoje nos desafiam em busca de uma integração. Diferente do mito de Ícaro, que ao querer voar lança-se no espaço com suas asas e perde seu contato, sua ligação com a Terra, nossos meninos em sua determinação em querer voar, escolhem outro caminho: projetam-se para o alto em liberdade, conectados com a Terra onde pisam firmemente e estabelecem uma relação de sentido entre o que está em cima e o que está embaixo. É preciso que a alma esteja solidamente ligada à Terra para que ela se eleve e se nutra da luz. Em suas brincadeiras, a criança evidencia para nós a verdadeira tessitura do conhecimento que em liberdade e alegria nos aponta o princípio da fluência do ato criador. Brincar é um ato de conhecimento e, como tal, garante os passos que dão início ao processo de criação. Em 1988, projetando as imagens sobre todo o processo de desenvolvimento da brincadeira da pipa num congresso internacional sobre o direito da criança brincar, em Tóquio, fui surpreendida por um professor oriental que, ao final da apresentação, com ar solene expressou em inglês: “Play is Pray” [Brincar é orar]. Compreendi o que ele queria dizer e nunca mais esqueci o significado dessa síntese ali revelada por outro olhar. A questão que envolve a educação das crianças não se reduz hoje a uma preocupação meramente curricular, relacionada ao uso ou não de novas metodologias e tecnologias avançadas de nossa cultura ocidental; trata-se de uma questão muito mais profunda. O impasse está na consciência.

“Acusaram-me de fugir à realidade e de refugiar-me no sonho. Penso que não se pode considerar a realidade como um panorama de uma superfície única, pois uma paisagem tem várias espessuras. E a mais profunda, aquela que somente a linguagem poética pode revelar, não é a menos real. Quero ir além da epiderme das coisas. Chamo a isso o gosto do mistério. Aceito de bom grado esta expressão, com a condição de escrevê-la com M maiúsculo.[...] Para mim, esse Mistério é o mistério do homem, as grandes linhas irracionais de sua vida espiritual. [...] Federico Fellini

O pensar nasce no sonho! E o lugar do sonho é o mundo!

Certo dia, um menino de seis anos chegou logo pela manhã contando um pesadelo que o deixara muito agitado. Uma grande bola de fogo corria para pegá-lo, ele muito aflito e com muito medo correu, correu, correu muito, até que se escondeu atrás de uma árvore, e a bola de fogo passou sem queimá-lo. Nesse momento ele acordou suado e deitado na sua cama. “Como pode”, me perguntou ele, “eu estava correndo muito, muito mesmo, de verdade e estava muito suado e acordei deitado na minha cama? Quem correu em mim? Alguma coisa correu sem eu sair da cama!”. Perguntas como essas, que brotam com frequência em diferentes momentos, nos surpreendem com o grau de percepção sensível que as crianças atingem em suas experiências subjetivas, acompanhadas de indagações que buscam compreender o vivido.

As crianças, em geral espontaneamente, contam os seus sonhos e pesadelos, e atentamente as escutamos. Compreendemos que,na medida em que elas possam expressá-los e serem ouvidas sem julgamentos, conseguem elaborar de uma forma mais tranquila sua consciência que está em processo de diferenciação. Ao longo desses anos de atuação na Casa Redonda, desenvolvemos e nos exercitamos diariamente como professores na leitura simbólica presente na camada mais profunda do ato de brincar, buscando penetrar cada vez mais nos significados impressos e expressos no repertório gestual e oral que acompanha a infinita manifestação da cultura da infância.

A tarefa é exigente, uma vez que demanda o refinamento de uma percepção capaz de se deixar afetar pelo que vê, reconhecendo as suas dimensões visíveis e invisíveis. A dimensão sensível da educação surge com a desobstrução dos canais de observação, até então permeados por uma ciência positivista que, além de fragmentar o conhecimento reduzindo o indivíduo a um mero objeto a ser conhecido, excluiu de sua análise a dimensão subjetiva como elemento essencial de qualquer abordagem sobre o ser humano. Somente uma atitude é pertinente para desobstruir o canal até aqui então encoberto pelos resquícios do racionalismo do século XVIII e pelo medo do desconhecido: o deixar acontecer. Deixar a criança soltar a linha da pipa olhando para o alto com os pés fincados na terra, alegre e confiante nos ventos que sopram! O sutil na educação se inicia no momento em que deixamos acontecer o acordar do outro lado, respeitando seu próprio ritmo, ouvindo seus primeiros sons, que certamente são diferentes daqueles com os quais sempre estivemos acostumados, ou melhor, habituados. Se o lado já conhecido é pleno da lógica formal, dos conceitos, das explicações e das certezas, o lado de lá, o além do horizonte, trará o mistério do imprevisível, do assombro, do que está por vir, do segredo que em o sagrado se revela nos conduzindo para uma complementaridade tão necessária à nossa sobrevivência como espécie em construção. O gesto espontâneo, aquele que vem de lá de dentro da essência do ser que brinca, somente ele, poderá abrir o portal permitindo a manifestação do impulso de vida. Dessa forma, à palavra educação é necessário agregar o verbo acolher, cujo sentido definirá um novo rumo para compreensão de como vão ser organizados os espaços educacionais voltados para a infância.

Brincar vem originariamente do vocábulo brincos, que vem da raiz latina vincro-vinculare, vínculo que nos remete à essencialidade desse verbo para a construção de nossa humanidade. Aqui se insere a verdade do ser de relação que somos o que tão criteriosamente nossa língua portuguesa reconheceu imprimindo uma diferenciação qualitativa entre jogar e brincar. Brincar expressa o gesto de iniciação do ser humano, o lugar da disponibilidade e possibilidade em sua trajetória de criação dos vínculos significativos que irão compor sua história individual e coletiva em sua passagem por este planeta.

A ciência da educação vem caminhando por um processo de discursar sobre uma lógica descritiva, não nos levando a nenhuma forma de transformação de uma escola que se encontra entre nós há mais de duzentos anos. Numa sociedade em que as “competências” passam a ocupar a oração principal do nosso sistema educacional, não há dúvida de que a escola vem sendo atrelada às diretrizes que norteiam o sistema econômico vigente, fortalecendo e endossando através das “estratégias educacionais” o conceito de um ser humano modelado para servir aos postulados que emergem de fora para dentro. São essas as escolas que queremos para as nossas crianças?

São essas escolas que formarão seres humanos aptos a resolver as questões que envolvem ética de solidariedade e fraternidade, em busca de soluções que respondam a melhor qualidade de vida de todos os habitantes desse planeta? Segundo o professor Agostinho da Silva, em sua obra Textos Pedagógicos I, deveríamos por certo buscar: • Uma escola que responda ao apelo que vem do íntimo das crianças para que as deixem viver com amor e liberdade; • Uma escola que ajude a criança a ser ela, dando-lhe condições de expressão de sua capacidade criativa; • Uma escola em que não haja doutrina que se imponha, mas, simplesmente amor, que liberte; • Uma escola em que não haverá mestres que ensinem, mas mestres que estudem; • Uma escola onde crianças saiam com o espírito, não de mandar, mas de servir; • Uma escola que satisfaça os gostos de cada um dos alunos de modo que a aprendizagem se proponha de dentro para fora segundo as necessidades que vão surgindo; • Uma escola em que ao aluno deve ser dada a oportunidade de ver os últimos progressos da ciência e a entrever os muitos mistérios que estão ainda por esclarecer; • Essa escola está se iniciando aqui e ali, inventada por aqueles que, sabendo moldar-se a si próprios, não se dedicam a esculpir os outros.

Se “na criança já está o homem”, como diria Jean-Jacques Rousseau, e tudo está dado a partir da criança, a escola não pode ser senão o lugar onde se aprende inicialmente o “recordar” de Platão. Lugar no qual na medida em que a criança vai crescendo, vai se recordando de quem ela é. Cada pessoa que nasce deve ser orientada a não desanimar do mundo que encontra à sua volta, e sim perceber-se como elo único de uma roda em eterno movimento.

Desenvolver uma educação onde a dimensão do sensível esteja presente é, ao mesmo tempo, um sonho, uma aspiração e um compromisso da Casa Redonda. Afirmamos o nosso trabalho, efetivamente, na manifestação do ser brincante das crianças, em que por certo vamos reencontrar e assumir o tempo originário em que estamos imersos no todo e por isso estamos ligado a tudo. Manifestar com ciência essa consciência tem sido o exercício presente a cada instante do nosso convívio diário com as crianças deixando-as brincar em paz, exercendo o seu direito de estar no mundo pertencendo a si próprias, desenvolvendo as potencialidades que as levem a seguir em frente através das experiências significativas porque vividas no seu dia a dia.

Como? Criando um espaço de convivência onde vidas interagem em comunhão, e aí sim nasce o lugar: o lugar onde acontece a espera do instante propício para a vida se revelar em encontros, desencontros e novos encontros tocados pelo sabor da alegria. Lugar onde o acontecer de cada um reflete o outro, e o conhecimento de um e de outro possui seu tempo próprio a ser incorporado. Onde a linguagem simbólica nascida da necessidade de se conviver com o desconhecido permite a ressignificação do humano que pertence a todos, mas se realiza em cada um de nós. Lugar onde os vínculos afetivos em amizade se transformam com o tempo para se expressarem sem correrias, sem atropelamentos porque lá está presente a vida e não sua negação.

Nesse lugar, o Brasil, terra natal dessa experiência, revela-se através de sua ciência e de sua arte, afirmando sua índole própria, compreendida como uma cultura que sabe acolher e reunir outras culturas, propondo uma roda só. A coexistência cultural implica na consciência de si que contém cada uma dessas culturas e, por consequência, a presença do respeito mútuo evitando qualquer gesto que expresse a dominação de uma cultura sobre a outra. Importa, entretanto, que o nosso país possa ser pensado a partir de si próprio, o que não significa dar as costas para o mundo, mas produzir seu canto próprio, suas próprias ideias confirmando a singularidade e riqueza cultural de seu povo.

Um lugar que se torne um organismo, buscando emitir o “sim à vida”, com uma atitude de gratidão pela oportunidade que é o fato de estar vivo. E que esse mistério, de cada um e ao mesmo tempo de todos, possibilite o acesso dos seres humanos a uma sobrevivência digna e harmoniosa com o seu entorno, seja o mais próximo, seja o mais distante. Um lugar onde habita a vontade que nos faça a todos ousar afirmar com determinação e alegria a aventura sagrada de trilhar um caminho, passo a passo, sob a presença de uma consciência que nos define hoje como impulsos criativos. Ligados a um universo no qual somos parte e todo ao mesmo tempo, em contínuo movimento em direção a unidade de vida entre o homem, a natureza e o cosmos. Precisamos cada vez mais tomar consciência de nossa interdependência e perceber que nossa sobrevivência depende desse reconhecimento.

O mundo está contido no ser humano. Existem padrões que se repetem em diversas civilizações. Somos herdeiros de um inconsciente que sabe e que traz o registro da história da espécie, de um código genético que remonta á gênese da vida, de um planeta e de um cosmos dotado de uma existência magnífica que só agora começamos a perceber. Nossa época nos pede a coragem de nos entregar: à percepção de uma consciência cósmica, ao exercício da intuição, ao encontro com a mitologia como sistema de conhecimento, entendendo o mito como relato simbólico das etapas do desenvolvimento humano e o contato com o inconsciente através do qual se manifestam descrições simbólicas de verdades complexas, seja na poesia, na literatura, na arte e nos livros sagrados do Oriente e Ocidente.

Nos embates atuais que envolvem a preservação da natureza, a biodiversidade, a defesa dos povos indígenas e demais minorias étnicas, a recuperação do saber de outras civilizações, as novas noções de tempo e espaço, a matéria como a energia mais densa e a energia como matéria sutilizada redefinindo o conceito da consciência, a física quântica, e outros temas que aqui poderiam ser alinhados, não podemos esquecer de apontar com determinação a importância de conhecer e reconhecer a existência de uma cultura da criança.

Essa é uma questão civilizatória, uma vez que a criança é o embrião do futuro. Se há uma obra de arte à espera de ser revelada, é o humano em nossa humanidade, e essa história tem início na criança. Aventurar-se e responsabilizar-se por essa consciência é nossa tarefa de agora. O tempo pede a recuperação do nosso rosto humano. Já estamos ouvindo sempre com mais intensidade ecoar sobre nós o anseio do homem por uma vida plena, não dissociada do cosmos, em que possamos reunir conhecimentos e desistir da dissociação dos conceitos entre progresso e qualidade de vida, ciência e humanismo, bem coletivo e individualidade, espiritualismo e cotidiano.

Talvez essa separação tenha se acentuado especialmente no século XIX, quando o homem acreditou no progresso material infinito, no domínio sobre a natureza, no controle absoluto da vida, e pensou ter conhecimento científico de todas as coisas. Nesse período se instalou o grande perigo da ciência: o de pensar que tudo está dentro de uma determinação da lógica matemática quando hoje a própria física quântica está a ponto de ter de concordar que a vida tem mais imaginação que a matemática. Hoje a tendência principal é que as conquistas científicas, técnicas e sociais se vinculem à poética da vida. O homem não parece disposto a empobrecer sua existência com uma postura fragmentada, redutiva, valorizando apenas alguns aspectos da realidade e negando outros.

Aquilo a que chamamos no início de o “outro lado”, o além do horizonte, o desconhecido, somos nós próprios, numa busca inadiável que não é outra senão a de nos entregarmos confiantes ao movimento complementar em que o mundo exterior e interior, o sentimento e a razão, o sujeito e o objeto, a matéria e o espírito, a imanência e a transcendência se interpenetrem e se reúnam como forças vivas da nossa consciência. Hoje habitamos um campo unificado, esse assombroso e fantástico Uni-Verso que é assegurado por uma energia primordial que mantém tudo vivo, tudo em movimento, tudo interligado em contínua renovação, revelando-se em consciência. A partir daí compreendemos e concordamos com Milton Santos quando ele diz: “O novo não se inventa, descobre-se”. Descobre-se, na medida em que compreendemos a vida como uma contínua e eterna revelação no qual o gesto humano comunga individual e coletivamente do descortinar dos véus que velam o inesperado, o desconhecido, o encoberto aguardando o momento propício a ser revelado. Assim como expressa o conto chinês “O entalhador de madeira”:

“Khing, o mestre entalhador, fez uma armação para sinos, De madeira preciosa. Quando terminou, Todos os que aquilo viram ficaram surpresos. Disseram Que devia ser obra dos espíritos. O Príncipe de Lu disse ao mestre entalhador: Qual é o seu segredo?

Khing respondeu: Sou apenas operário: Não tenho segredos. Há só isto: Quando comecei a pensar no trabalho que me ordenaste Protegi meu espírito, não o desperdicei Em ninharias, que não vinham ao caso.

Jejuei, a fim de pôr Meu coração em repouso. Depois de jejuar três dias, Esqueci-me do lucro e do sucesso. Depois de cinco dias Esqueci-me do louvor e das críticas. Depois de sete dias Esqueci-me do meu corpo Com todos os seus membros.

Nessa época, todo pensamento de Vossa Alteza E da corte se esvanecera. Tudo aquilo que me distraíra do trabalho Desaparecera. Eu me recolhera ao único pensamento Da armação do sino.

Depois, fui à floresta Ver as árvores em sua própria condição natural. Quando a árvore certa apareceu a meus olhos, A armação do sino também apareceu, nitidamente, Sem qualquer dúvida. Tudo o que tinha a fazer era esticar a mão E começar.

Se eu não houvesse encontrado essa determinada árvore, Não haveria Qualquer armação para o sino.

O que aconteceu? Meu próprio pensamento unificado Encontrou o potencial escondido na madeira; Desse encontro ao vivo surgiu a obra Que você atribui aos espíritos.”

Conto Chinês de Chuang Tzu do livro de Thomas Merton.

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